A cada dia que passa, penso que esse choro não é só meu.
Guardo as lágrimas para chorar amanhã.
Incompreendidas lágrimas ancestrais, de mulheres e
homens que na negrura da noite, fugiam do abate.
Eu queria um dia ouvir a voz de alguém do passado.
me mostrando o caminho menos doloroso e se caso
houvesse, queria esse cuido. Porque não aguento
tanta dor e tanto sangue derramado.
Meu corpo negroide também é transeunte
na fadiga de construir algo no tempo que me deram,
no espaço da suposição de minha existência,
onde a sensação de desgaste é constante e insalubre?
Pergunto
Como desviar dos tiros-olhares?
Das vozes gritando na minha memória?
Sacudo meu corpo para encontrar algum rastro
de satisfação que minha mãe e meu pai já tiveram
nalgum dia...
Meu peito palpita, minha cabeça na mira.
A mão calejada ainda jovem, porém errante.
Rasuras cognitivas. O medo nascendo prematuro.
A criança mortificada de cada uma de nós não ressurge
ao terceiro dia.