segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Manga

     Rapidamente surge na memória um dia passando pela ciclovia, após as ladeiras, lá no Eusébio. Era umas dezessete horas e pouquinho, o sol baixava lento silencioso; além daquele tempo.
O cheiro doce das mangas que despencaram trazia também o que mantia a lembrança.

     Quando em dias de muita chuva e ventos dispostos a derrumbar um mundo, balança tanto a mangueira que até as mangas verdes caiam. O rebuliço era grande para colheita. Sinto pela manga um gosto de manhã, de ventos bons e sonho: sonambula corria e era como rasgar um véu celestial.

      No trajeto até aqui, sempre aparece no caminho umas mangas doces e azedas. Eu como todas, esteja quente ou um pouco mole ou mordida de passarinho. Consigo separar com meu canino o que por ventura, possa impedir um momento de tamanha celebração.

Por entre as mangueiras ancestrais quero seguir o curso do meu rio
com minha devoção
e os sonhos.
Segurando na mão da ternura e do fogo. Justiceira



domingo, 15 de dezembro de 2019

O título fica no verso

O avanço de tuas marés
compromete de quando em quando
a barragem que construi inutilmente na beira.
Concordo com as crostas que sustentam
essa estrutura se não fosse por elas...

Como brado retumbante, a tua voz forte
me cerca. Se dissesse antes que te dói
quando meus pés fogem do teu areal, eu já
não teria chorado tanto nas noites de lua.
E tu... Ah tu, teria alegria de quem dançar!

Mergulho,
aproximo as algas e os pequenos
peixes do meu cabelo e brinco com o balançar.
E sinto enjoos, porque só falo de mim.

É triste viver ancorada em um passado,
você mais do que ninguém sabe, pois
és uma senhora das águas... Águas profundas.
Tens a sabedoria, mas retém o fôlego...
Sabe nadar... E quando precisa boiar, afoga-se.

A superfície lhe é agradável suficiente?




Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...