quinta-feira, 20 de maio de 2021

A diferença entre diálogo e discurso

-Embora eu esteja cansada de ter esperança...

-Desculpe interromper sua fala querida, mas além da esperança temos que nos valer da graça e por ela ser mais atenciosa. Ontem você quase se machucou feio quando caiu da bicicleta. 

-Sim, não fosse a sombra...

-Oh, sim! A sombra da árvore em cima do buraco no meio da pista...

-Aquela velocidade durante a descida...

-Só falta apelar para o advento da bendita chuva que alagou tudo, e regou até ervas daninhas e blá blá blá 

-Você não precisa acreditar em mim, Carmem. Sempre que te conto um fato, tu cria uma história e dúvida da minha narrativa, é como se tivesse vivido antes de mim.

-Não me convenço fácil e acho tuas estórias tão chinfrim que quero licença poética para criar um novo enredo.

O riso correu frouxo nos lábios carnudos de Beti.

-Pois você vai ficar querendo, onde já se viu, licença poética agora é? Você é muito gaita, vem aqui, me dê um cheiro.

-Não! Continua o papo de esperança, eu juro que não interrompo mais. 

-A esperança é um prato vazio.



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