terça-feira, 29 de março de 2022

Correr na lama

No entorno do muro 
Com medo de melar os pés...
A sombra que o sol reflete no chão é quente.

Quando eu era criança tudo era questão 
de quentura, a mãe dizia logo que ia ficar doente.
Tomasse banho com a primeira água que saia
da encanação:

-Molha a cabeça porque o calor 
só vai embora assim.

Desafiando os costumes, molhar apenas 
os pés me salvou em momentos obsoletos 
em que pensei que poderia não resistir aos 
olhares tortos na rua. 

Embora eu tenha paciência, as profundidades 
não me cabem nesse instante molhada, confusa e
gastando risadas com o calor da presença sutil 
de uma mulher qualquer. 





Desafogo

Muito tempo olhando pro teto da minha casa. 
Deito na rede e a vista das telhas de cor carmim 
me confortam por crê na proteção da coberta.
Ouço alguns sons passageiros vez e outra pequenos 
passos dos gatos noturnos e saudade.

Oi, como vai?

Geralmente estou bem, mas comumente é só uma expressão.
 
O suposto café esfriando sobre o braço da cadeira velha.
Não compreendo o sofrimento da flor que ao nascer, 
desprende-se da semente deixando no chão as ramas secas do broto... 

Asinha

Benzer o corpo com água morna.
Tomar banho com a suor ainda escorrendo. 
Acalmar a mente com breves assuntos de fases ligeiras.

Talvez esse arfar de agora seja incomum, mas tenho
vagas lembranças do momento em que nasci... 

A explosão cósmica, a formação das vértebras, os pequenos
ossos e as cartilagens do crânio... 
Resistindo a cada suspiro, em cada pânico e sem amor. 


segunda-feira, 28 de março de 2022

Delírio

Parece fantasia esse sorriso. 
Abertura da boca em um semi círculo 
perfeito, a acádia dentária e todos 
os ossos da face em um movimento
fechando os olhos para aprumar uma larga graça.

E mesmo assim o mundo é tão cruel. 
Logo cedo a notícia que o viaduto fora interditado, 
um buraco atravessado dava vista a pista inferior 
na parte da BR 116 como um espelho quebrado. 
Esse fato gerou um burburinho sobre segurança em dias de tempestade…

Como desvendar os mapas paradoxais de uma mulher?
- Pense
- Siga as pistas
- Faça sábias escolhas 

Quando observo as pálpebras sinuosas, 
os meus lábios latejam igual a brasa 
de uma fogueira recém acessa e debruço 
sobre os dedos todo caos dessa cidade. 


Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...