Leves pontadas no útero me fizeram
despertar mais cedo que o normal das
manhãs. E também um sonho:
Um olhar me observava de longe.
Eu temi e sem entender, só penso
que agora estar atenta é o que me resta.
Ao perceber aquele olho senti um calafrio
e lembro da sensação da minha visão abrindo,
ainda trêmula e sem sorte de descanso,
porém reconhecendo que o medo não permanece
porque em meu corpo os mapas estão tangíveis, nítidos
e com belas encruzilhadas.
O balanço da rede, o frio do dia nascendo
devagar e a vontade de pegar a bicicleta
e rasgar as ruas; não é um sentido de fuga,
pois me persigo incessante:
Em uma pulsão de busca, a realidade
posta sobre meus olhos carnais e assim desperta,
encarar-me “olho no olho” e talvez essa seja a
mensagem do sonho:
olhar-aberto-sensível-liberta
Então abraço-me entre pernas e cabeça, pequenina
e brincante; sorrio e lagrimejo um pouco no consentimento que aqui, independente das marcas
coloniais, é um lugar possível de segurança e afeto:
Em meu casulo-laboratório-abrigo no presente
da cura e na alegria de um olhar cuidadoso para o
tempo de mudança