O vento forte nesse inverno me faz lembrar
da casa de minha mãe, dos dias em que a lama
corre na rua e é como sentir o cheiro apurado de
uma infância que nunca vai embora.
Revisito as memórias e as lágrimas
caem como folhas envelhecidas de uma grande árvore
centenária. Ecoam palavras, gestos, sorrisos e tudo que
admirava nele, quando seu lamento era tão profundo
a ponto de desejar morrer. Não porque vivia mal, mas
pela “ferrugem corrosiva” que a velhice causa no corpo
humano.
Tão lúcido ele era, tão esperto e inteligente, que só
me orgulho de ter sua genética. Meu avô foi um homem
negro, pobre, que criou os filhos das filhas, alguns levam seu nome no registro de nascimento e o chamam de pai. Não consigo sequer imaginar sua grandiosa
generosidade paterna que me ajudou a superar traumas, em sua gigantesca sabedoria, sempre me foi carinhoso,
presente, vivo e assim permanecerá.
Vou sentir saudades eternas do meu querido avô.
Tudo que sei hoje uma boa parte veio dele, o perseverar
na imaginação criativa do futuro próspero, a confiança
no trabalho que realizo e com certeza, a vontade infinita
em viver o melhor dessa terra.