segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O despencar do céu

A tarde era quente como uma panela de pressão que explodia e resvalava cheiro e textura aos corpos transeuntes. O sol é um ingrediente salgado e oleoso que faz escorrer através dos póros a latência do existir.

Dentro dos costumes diários: o desfastio. A vontade era desbravadora diante as ruas que cortavam-se e um novo caminho se via de longe, quando descia no horizonte aquele imenso raio.

De noitinha já.

O nosso parto aconteceu na chuva
Sem menções religiosas ou luvas
Meu coração unia-se as tuas curvas
Nas encruzilhadas, lumbras

Toda rua era turva
Minha língua; tua vulva
Você me olhava; eu trovejava

Descia lúcida na avenida curta
Sobre nós as gotas mútuas
De um dilúvio inesperado
Um carinho abandonado
e tuas mãos no pescoço
Era um alvoroço dentro de mim
Que eu quase morro
Quase morri
Quase fiquei rouca
Por instantes pensei que estava louca

Mas não, era só o regozijar do trovão
As minhas pernas bambas de te levar
Ou era tu a me guiar pelo labirinto do centro da cidade?
Eu não sei!




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