quinta-feira, 19 de maio de 2022

Queria não falar mais disso

Cravei sobre as peles desordem e desafeto. 
Agora vejo a crueldade da malvadeza que fiz. 
Não quero olhar no espelho! 

Meu rosto parece distante de tudo que sonhei e 
quando voltei aqui, no lugar longe do onírico, me 
desconheci. É desgostoso trazer para perto as feridas
e embora consiga vê-las menos doídas, ainda sinto 
o latejar. 

Rasgo todos os dias sobre o viaduto um brado de socorro. Ninguém vem e nem há de vir, pois já passaram por aqui gaivotas em revoada e os urubus na beira da estrada desejam o meu fim… 

Quantas vezes você me viu chorar? 
Não mostro a dor encarnada nos 
meus lábios maduros, muito menos 
destilo amargura no corpo de qualquer uma. 

Mesmo sentindo tudo como lança atravessada na minha carne, agora expurgo pra não apodrecer por dentro antes que o dia apareça e jogue na minha cara 
as verdades que me fazem esmorecer em ânimo e juventude. 

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Registros

Aprendi a tecer sobre o corpo uma 
camada de tranquilidade e afirmo: não é algo tranquilo.
A tristeza assola minh’aorta.
Ervas daninhas crescem em detrimento, 
minhas lágrimas alcalinas caem no solo batido
pele ressecada e negra.

Um pequeno cacto floresce 
consumindo o restante de água aqui. 

Ninguém vai perguntar por ti quando tudo desmoronar. 
Irão inventar dizendo que aconteceu porque você é 
descuidada demais ou que não se preparou suficiente.

E no final... nada será suficiente.

Abrigar no coração o quentinho das boas lembranças sem aprofundar demais nas histórias que cabem em cada uma delas, é um mecanismo de autoconhecimento.  Imagina você ter vivido uma situação bem caótica e se depara com essa desgraça acontecendo outra vez e mais outra e outra… 

Observar o padrão em que o ciclo soa repetitivo, algo sequencial e enfermo, é genuíno! 
Como se fosse um retrato pendurado com manchas amareladas e caminhos de traças, minhas lembranças são derradeiras pois já basta a saudade.

Ai! 

A umidade desses dias tem vigorado e meus olhos amadurecidos não cansam de buscar o fundo das lembranças. Puxando, reformulando e consentindo que agora mais do que nunca, há uma urgência em colher os álbuns e cada minúscula familiaridade que encontro também adiciono no mapa de volta pra um lugar, um pouquinho de seguridade 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

É preciso banhar o corpo inteiro

Senti o abraço do mar e desaguei.

Hoje o tempo passou curtinho…
Acomodei-me em uma poça de água salgada que 

se formou a medida em que a 
maré secava e 
expunha 
os corais de cores 
cintilantes 
marrom, 
dourado e 
uma cor bordô profunda. 



Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...