quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero 
tanto quanto não me saciar no tempo 
das coisas findas rapidamente. 
E então me deparo, as vezes tarde demais, 
com o peso das coisas;
quando algo esbarra na minha frente ou 
quando tropeço nos escombros que amontoei 
pensando no amanhã. 

Estou cultivando um pouco sementes
de maracujá, pitanga, urucu e pipoca.
Mexendo na terra como quem pega no 
coração e dá uma sacolejada, porque nem 
toda terra é adubada o bastante e nem 
todo coração é arraigado de sangue para sempre;
logo se faz necessário o toque para sentir. 

Tenho abraçado meu corpo em silêncio e 
observado as colisões do gesto comprimindo 
nesse abraço um pedaço do mundo inteiro
vivendo dentro de mim. 

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Tadinha

Nada adianta abrir a boca, bradar sobre os montes
alegando está ferida demais para travar novas batalhas,
muito menos cobrir os olhos para não vê os adventos 
inoportunos de uma fé tardia demais.

Quero aliviar essa sensação de por um fim 
sorrateira, rasteira, confusa e fria, como a morte 
Pouco a pouco
Aos pedaços 
Estilhaçado 
Ponta 
Lança 

No fogo tudo se cria e renasce dele toda grandeza 
também, mas a queima, o sacrifício no fogo e o quanto
ele penetra até as camadas mais profundas são de longe
o processo menos doloroso, como vês… 







Descontentamento

Já escrevi sobre inércia e frigidez 
agora sinto incomum sensação 
dessa vez um pouco menos. 

As coisas novas me dão leves frios 
na barriga e passa, logo a rotina chega 
e o ar fresco da novidade se esvai

Não estou sendo bucólica porque muito
do que vejo hoje, já vi remota paisagem,
meus olhos endurecem fácil com a maresia

Os discretos amores que guardo são pequenas
euforias em minha estadia aqui…

Aborrecida

Minha cabeça não para!
Aliás, a cabeça de ninguém… 
Vejo as pessoas e conto para mim 
que talvez elas não saibam que
algum momento tudo vai desaparecer 

Isso porque também penso que em minha 
frágil esperança; o minuto de felicidade 
se esvai e adiar qualquer fazer agora pode 
ser fatal. 

O tempo implacável me permite sonhar 
e provoca as lembranças mais contundentes 
que dilaceram uma parte da minha paciência.

Não concluso

Em vários cadernos rabisco um pedaço de mim.
Registro as outras formas enquanto caminho.

Desenho apertado entre meus olhos dormindo 
ainda de manhã cedo, sonhando e muitas vezes
chorando em dispersões que busco não reproduzir
com frequência na minha realidade querendo 
existir. 

É duro e largo, então continuo andando!
Não tem um sentido é mais uma instiga mesmo. 
Imaginar o que pode ter por trás 
do amor e se realmente é desse jeito que deve ser
Delirante em veias expostas, como um badalo 
meia noite, sempre batendo.



terça-feira, 15 de agosto de 2023

Aqui na Praça

A praça em sua altivez, desafia quem 
com pressa passa e não observa sua leveza. 
Os pombos que por aqui fazem morada, 
não são bestas: caiu um grão, eles brotam 
do chão e comem até o pão amassado pelo
cão, semelhante a nós: 

Sempre insatisfeitos! 

O comércio quase parado, hoje é ferido 
e tudo chega mais lento...
Aqui já mudou muito, mas agora 
parece ter 

mais vida: miseras, em desespero 
e vida calma também; como toda vida.

Se havia reclamação dentro de mim, 
o vento que corre aqui nessa época do ano, 
vem e leva devagar, chega a balançar

parece ninar!

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Assuntos indispensáveis

- Tudo foi dissipando sabe, Cremiuda…
e a gente vai crescendo e ganhando corpo de gente
mas nem sempre é a gente que vai tá lá 

- Lá onde Cleide?
- Nada, deixa… 
Ontem assisti na tv que estão dando uma 
pílula de “boa sorte” em breve vai chegar nas 
farmácias e será ofertado,
apenas as pessoas nascidas até os anos 90 

- Então a gente não vai conseguir? 
- O que? 
- Essa tal pílula… 

- Ninguém sabe a eficácia disso, vai 
que seja uma maneira de reduzir a população ein?! 
- Olha, não seria de mau tom… afinal, tem gente tão 
ruim que não deveria ter nascido… 

- E desde quando você ficou assim, 
parecido com seu pai? 
- Não traga a memória aquele infame… 
- Desculpa, é que… 

- O que? 
- Já tá tarde pra gente conversar, daqui a pouco 
minha namorada chega e vai ficar com ciúmes 
da gente de novo

- Você já devia se acostumar com isso, porque 
não ligo… a gente é amiga há tanto tempo,
sem contar que não sinto mais atração por você…
- Não sente mais é… (?)









Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...