quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Ai!

O que será de mim? 
Com a vapor da tua pele
negra fazendo caminho
em meu corpo, pálido, frio e solitário.


Tu que em teu corpo traz o carnaval inteiro,
para este meu ser não acostumado a confetes.
És a mulher que vem a mim, com lábios entreabertos,
famintos.

Queres me comer, todos os dias,
mas vem me deixando derreter em tua língua,
degustando-me aos poucos, dando leves mordidas
para atravessar-me com teu canino.


Me desnuda, corpo, mente e alma com teu olhar de fera vitoriosa,
cheia de si. Passa a mão e arranha meus sentidos.
Com o ar quente do respirar, a esperar, a desejar,
a temer que a luz do dia venha nos acordar.


E eu sentindo teu cheiro, vou mansa, de quatro patas a ti.
Eu, perdida nesse teu mar escuro, de ondas fortes, rápidas, outras lentas,
que parecem me afogar. Esperneio, com meu grito afogado em teu desejo de me levar.
Me arranho nas tuas areias, e você como correnteza volta a me puxar.

Sobreviverei eu? Sem barco, canoa ou boias? Apenas com minha lembrança de saber nadar?...


Por: Amanda Aristides

Há Mães?

Me invadem as causas raivosas dos que pelejam
comer o pão e só tem cachaça pra embriagar-se e
dormir. Percebo que nas favelas quem grita não
é a polícia (também) mas há famintos de justiça
que gritam em uníssono para ninguém escutar.


Escuuuta


Ecoar nos meus ouvidos uma música lenta
que leva pra dentro das casas enlodada da chuva
um breve murmurinho de que tudo vai passar
despercebido num piscar de olhos, olhos de crianças.
E não passa...


A música


Percebo a escuridão ao fechar os olhos.
Os risos em volta incidem um largo choro.
Um tiroteio rasga as risadas, o aperreio:


Da ausência dos filhos de uma mãe...


-Cadê o meu menino?
-O meu neguim?
-Cadê sua chinela e suas moedas?
-Onde foi parar o seu olho?
-Quem levou o seu riso?


Em cortejo ao cemitério.


Nós somos vítimas da polícia
do berradeiro que cala a nação.
Do balado do sino da igreja em
que os esfomeados agonizam sem
perdão.


Somos o choro que não cessa das mães calejadas de sofrer!







quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Arrogância

Vem me come agora com seus dentes de noite
Corre e salta o muro da minha prepotência,
se for capaz, e pixa a minha cara!
Descarrega os teus dias de solidão
sob o meu corpo cheio de ócio, vai.

Vem se tu fores mulher de verdade,
mulher da vida. Cospe nessa ferida, chama 
do tempo que não se cicatriza. Mas só se tu
fores mulher bandida, me corte os punhos e
suga de mim o sangue envenenado.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Feliz cidade

Um dia a vi cabisbaixa reclamando que a vida
só passava por ela dando língua, zombando dos
seus buracos profundos que ninguém dava conta.

-Por que será que a cidade está feliz?
Sabe-se que por aqui passa uma Dona...
Mandona, com seu bloco de carnaval:
"Eu vou cair no seu buraco"





















A cidade ficou toda molhada
Choveu e encheu todos os buraquinhos de
Confetes, purpurina e concreto.

A dona Borda sapatinhos
de retalhos
pra sambar na cidade. Nua!
É a vida que passa com sua língua enfiada
na cidade da Dona. Mandona


Felicidade

sábado, 2 de janeiro de 2016

Amargura

Não aguento mais dormir e a sombra do teu
olho atormentar minh'alma.
Por que me persegues, Oh alma morta?
Ainda que em sonho atenta-me a lucidez.

A chama da saudade insiste arder 
inflamando minhas córneas. É só
minha somente para mim, sem a 
reciprocidade da junção dos corpos. 

Esse teu cheiro ruim agora, emana nos
meus pulmões como remorso, que
as flores que são levadas para os mortos
podem exalar...

Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...