terça-feira, 7 de junho de 2016

Sonhares

Me suga e fere!

Não me lambe, não me quer. Então joga fora! Me cospe, vomita, me grita e não me fode.

Larga dessa história, dessa retórica cruel. Não quero ser papel que você escreve e arranca e amassa, e ateia fogo e depois derrama água, deixando assim meu corpo em carne viva. Me mortifica entre teus dentes, me mastiga como um animal faminto, digere e me caga para virar adubo em terras férteis, assim verás a minha serventia no jardim de outra flor. Amargamente sinto a bile estourar dentro, azeda-me também os beiços - estes que ontem queriam te beijar. - Num surto e colapso do tempo, vi a noite virar dia num piscar. Quando escuro, queria sair no relento pedindo carona nos braços do vento, porém ele não estava a favor, então eu iria acordar a vizinhança toda com aquele meu choramingar noturno e perturbador.

Parei!


Sonhei no sonho e acordei com os cabelos cheios de nó! Te vi dormindo... Ali tão perto e a léguas de distância; Chorei um tanto que a paisagem do quarto desbotava em tons aquarelar e sair gritando, sangrando. No trajeto o sol batia na minha pele e eu lembrava da tua - queria voltar!Mas já havia trancado o cadeado, pois sabia que ia desejar olhar mais um pouco pra tua boca aberta e ouvir o teu rosnar. De tudo podia usufruir, mas...

-Por que quis comer logo meus olhos?

Cai

Mansinha ela.
Beija lenta os lábios.
Encharca os lençóis.
No assoalho um bilhete 
escrito a mãos tremulas 
repousava sem que o percebesse escrito:
nada!
Uma por uma brotavam e não tardavam 
cair 
cair
e cair,
até virar pântano e assusta-me com
a vermelhidão das olhos.
Era noite e dia, já não dormia em paz
e levantava aos gritos de consciência da fome.
Pedia pra morrer de vez, sem dor ou sangue...
Embora o processo parecesse vagaroso demais, 
não tropeçava na ideia de auto sabotagem.
Sentia-se desfalecer a vital força dos ombros,
e tombava agora num sono profundo que obteve 
bebendo suas próprias lágrimas misturada com limão e sal.
 
                                                                                     

                                                                                      Morreria embriagada

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Atemporal

Quatro dedos
 apontando a imagem:
Primeiro ·                            as casas antigas
2 ·        as estruturas                                      em          ruínas
     3·                                                                                   pessoas correndo
4 · um gato em cima do telhado

A música complicada e melancólica com a simplicidade dos móveis, conduzem a dança.
As xícaras             e a bolacha
O café e os insetos
                            O pão

Cairão
           ao chão
                    quando eu virar
de cabeça para cima.

Logo ouço os passos
Estou                        de pé sobre as vertigens do que já foi.
Eles estão indo,
elas
elas
elas
elas,
Abandonadas no próximo cais.
Eis aqui as garras:
Os                         olhos do infinito desconhecido

Em cima dos muros gemendo seu cio.

Quatro dedos apontam o tempo e somente um não faz sentido.


1> 2> 3> 4 = 0



Obs: ervo a imagem outra vez,
sem os dedos do tempo,
ela parece solitária,
sem calma nem zelo,
pintada talvez por alguém
com cansaço divino.

Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...