quinta-feira, 20 de maio de 2021

A diferença entre diálogo e discurso

-Embora eu esteja cansada de ter esperança...

-Desculpe interromper sua fala querida, mas além da esperança temos que nos valer da graça e por ela ser mais atenciosa. Ontem você quase se machucou feio quando caiu da bicicleta. 

-Sim, não fosse a sombra...

-Oh, sim! A sombra da árvore em cima do buraco no meio da pista...

-Aquela velocidade durante a descida...

-Só falta apelar para o advento da bendita chuva que alagou tudo, e regou até ervas daninhas e blá blá blá 

-Você não precisa acreditar em mim, Carmem. Sempre que te conto um fato, tu cria uma história e dúvida da minha narrativa, é como se tivesse vivido antes de mim.

-Não me convenço fácil e acho tuas estórias tão chinfrim que quero licença poética para criar um novo enredo.

O riso correu frouxo nos lábios carnudos de Beti.

-Pois você vai ficar querendo, onde já se viu, licença poética agora é? Você é muito gaita, vem aqui, me dê um cheiro.

-Não! Continua o papo de esperança, eu juro que não interrompo mais. 

-A esperança é um prato vazio.



terça-feira, 18 de maio de 2021

A sua boca semi aberta

Estou evitando falar coisas profundas demais. 

Passam os dias e depois de meia noite nada me consola. Até quero cultivar o hábito de dormir mais cedo, quem sabe as oito horas e acordar as sete, mas não... 
Nunca pensei que amaciantes seriam tão dolorosos, digo, o cheiro. 

Lembro e as vezes lembrar é ter você aqui.
Os cabelos e o cheiro doce invadindo meus poros. O esmalte: verde musgo, caramelo, terra. Posso dizer que já beijei a mulher mais bonita da redondeza? 

Fui devorada. 

A boca vermelha; as roupas esvoaçantes. 
Não compreendia aquele olhar triste e tentei destraí-lo, na tentativa, trai. 

Avassaladora, ela travou em meu peito a faca prematura do amor-dor e não tardou a lamber seus dedos ainda encharcados de bordô, carmim, em mim não tem mais sangria. 

Acabou.

domingo, 16 de maio de 2021

O que há em minhas mãos

O calo já saliente na palma na medida do dedinho. 
Meu corpo maduro de mulher não sustenta calor de paixão alguma.
E sigo, afinal estou deixando de lado o pré requisito da paixão. 

Sabe quando você olha a areia da praia em um dia bem ensolarado, sua retina só falta deslocar, daí você toca a areia, pega com as duas mãos e ela escorre? 
Pronto, é este ponto: tudo escapa. 

O fato de desenvolvermos o polegar opositor, não se conclui que necessitamos segurar as paixões como uma propriedade. 

Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...