quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Essa madrugada

eu caí no sono com o abajur aceso,
a luz amarela de frente pros meus olhos
como um farol cortante e morno.

Instantes-quase
depois
meus olhos
saltaram
súbitos
pelo
clamor
agudo
de uma imagem rapina.

Tua!

O teto do quarto dava vista
a serpentes douradas em bando,
teus cachos, teu corpo coberto
por um tecido dourado que caía em franjas,
tão vivas e absorvendo um forte cheiro de ouro e de floresta.
Teus olhos elegantes iam e vinham,
de cima, preenchendo todo o quarto!

E eu estática na cama,
arisca de pavor e desejo.
Eletrizada!
e ensandecida
querendo

erguer-ranger-tanger
e não podendo.

Por: Tatiana Dourado



domingo, 20 de janeiro de 2019

Eclipse

Reviro sobre a cama a noite e pela manhã
Estou cansada. Descubro meu rosto, olho
No espelho aquela marca de expressão que
Cresce e desponta na minha testa; fico em
Silêncio até a chamada de minha mãe.

Caminho pela casa com pressa.
Sustento minhas costas.
Meu avô aos 92 anos tenta sustentar
Sobre os joelhos doloridos, o corpo
Exausto.

São feitos de pequenos cortes isso que
Escrevo. Palavras que se procuram.
Significados, entrelinhas que não se agrupam
Na saída nem na entrada dos circuítos
Mostro pouco o que realmente conheço de tudo.
E de mim aos 26 anos, sei quase inexistente
O verbo que pode conter nos dias estes que
Passam e me levam, leve e madura.

Sinto ventania no meu corpo todo.
Abraços e beijos e abraços e luas, eu e você
E ela e aquela outra, várias vezes seguidas
Da mesma faceta. Caseta!

Concluo a necessidade do encontro comigo
Diante do tudo acontecendo e que me tem.
Caso queira você também um pedaço, sinta-se
A vontade em pedir... Saliento com antecedência
Que talvez eu não fique... Mas que gosto da permanência
Mútua, do sentimento intenso e da busca...

Estamos vivas!


sábado, 12 de janeiro de 2019

Alinhamento da fuga

Se fugir para longe, é distante que me sinto? Contorno meu rosto com a lembrança e cubro a saudade que tem a cor de suas pernas lindas. Sendo assim tão confortável da maneira que é o tato as superfícies planas, o chão que agora procuro talvez não seja em uma cama desconhecida e por tudo que digo ser sagrado, o chão ao qual quero deitar não me deixa ver os olhos nítidos da minha busca.

Confundida no céu, eu quase não sinto terra. Estou aqui ainda, no entanto menos presente, eu sei. Largo meu choro não vem mais, tudo é mais paisagem e detalhe de natureza ébria e coisificada...
Sinto tanto muito esse momento conturbado na cidade, e tudo que mais anseio é um abraço menos angustiado.

Posso?
Entro e deito.
Aqui não me reconheço, mas consigo descansar.
Como pode ser o vôo se as tempestades dentro de mim surgem e caio, desabando sobre minhas construções?
Ora, não há explicações para o feito que o intestino está exposto, as friagens que um olhar ou um beijo causam, e não são os seus; as mãos que entrelaçam e as suas que não sei mais como sentir; o cheiro de casa...

Eu sabia exatamente o espaço das tuas pisadas, o intervalo entre uma e outra, o peso, o formato...
Hoje parece que caminho só.

Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...