quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Mãos negras

Um vestido florido lindo
Nas costas uma mochila quase velha
Segurava um copo descartável de 500ml

O pedido
Uns trocados
As penas magras
Boca banguela

Deus abençoa mesmo assim!
Nas mãos transitava um cajado
Como quem fosse bater
Era raiva?
Como quem fosse abrir um caminho

Se apoiava quase fraca

A firmeza das mãos e do olhar me rasgava...
Na próxima parada fora elogiada e nada lhe davam...
Seguia buscando, dizendo: conseguir o da noite...

O corpo lânguido
Pêndulo
Trêmulo
Lento.

A imagem
repetida na memória
Hiato
Tristeza repenti na
Rua desguarnecida.
Estou esgotada!

É quase audível o tintilar
Mas no copo
No corpo a vagar, nada.
Velha negra
Não tem missa

Peço a deusa ou deus, universo ou sei lá
Que algum lugar, nalgum dia, meus olhos
Parem de suar
e a senhora alcance o pedido:
conseguir o da noite...





terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Tardia

Nas ruas... O choro...
Calçadas e papelões
Roupa de Natal? 
Papai Noel é um patife
vestido de ódio e pena.

Quando pequena, admirava os cartões 
natalinos que minha mãe recebia de seus patrões tolos.
Ficava a imaginar aquele lugar gelado, as letras de felicidades... 
As vezes ela ganhava uma cesta com doces e vinhos.

Há secreção no meu nariz...
Sangro ao percorrer o caminho.
Até chegar aqui, meu coração 
despedaçou-se. 
E chorando 
Vi uma estrela cadente
Num rasgo cortante 
No céu que nem é meu... 
O pedido que fiz é o de sempre...
Por vezes, o visualizo no seu sorriso...

Um pedinte e dois reais de gratidão.
Meu coração está quebrantado, contrito.
Meus olhos cerrados.
Minha bicicleta pesada. 
A rua sinalizada.

Eu sempre estou só com meus pedidos. 





Amanhã tem cuscuz

Elevo meu pensamento para um lugar de conforto.
Trago pra perto amuletos e sons.
Ouço meu coração palpitar em leves batidas.
No choramingar noturno lembro de agradecer.
Permaneço calada: há um grilo que não para.

Logo será de manhã e o frescor balsâmico
das flores do Jardim de minha mãe correrá pela casa. 
O rádio de meu avô sendo ligado
e em cantigas inventadas ele
conduz seu corpo rígido e lento até o banheiro.

A massa molhada descansando.
Estou cansada.
Cedinho minha irmã acorda
e coloca pra cozer o alimento.
Estou cansada.
Chorosa e faminta agora. 

Conceito de casa

     Aqui era uma lagoa rodeada de lagoas. Um lugar fértil de bichos e mulheres!

120 metros de fundura.
Mistura de cimento
Um amontoado de pedras pequenas...
Ferros.
Pedras maiores.

      Como atravessar pedras maiores?

Erguer paredes.
Sair do chão.
O ponto de incômodo entre a nuca e o olhos.
Uma trave: dentro da visão.

      Subir assobiando na leva dos tijolos.
                     1 pedreiro
                     1 servente

      O chão é o mais importante, não esqueçam!
Se aí nascer pé de mamão, pode fazer uma plantação de qualquer coisa.
Mamão é uma das frutas mais férteis que já vi.
      Antigamente eu comia barro. A cor avermelhada, amarelo, branco, quente,
me abria o apetite instantaneamente e veja, não era sobre introduzir algo na boca
Era em suma, o cheiro que me fazia fechar os olhos miúdos: Uma memória!

      Conta minha mãe que durante o período de gravidez ela sentia uns desejos estranhos
e um deles era comer barro. Será essa minha lembrança de casa, nas entranhas de uma mulher
saboreando algo com tanto prazer?




Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...