sábado, 25 de junho de 2022

O atlântico me agonia

Líquido que ameniza, mas não cura.
Queria não vê, sequer tocar ou desejar. 

Observo os movimentos das pessoas-marés e 
controlando a saída de ar para não faltar na próxima braçada, 
continuo vagarosa nesse oceano a minha procura. 

Debruço nos versos em ninharias e ainda assim 
dizem que minha escrita densa parece tristeza. 

E se for? 
Pode uma mulher-homem-mulher falar sobre as 
tristezas que se fundem a tantos caminhos? 
Ou devo apenas ficar de pé, cansada,
sobre os cacos equilibrando minha cabeça?

Parece que esse choro não é meu.
Sinto e aqui deságuo.

A travessia do atlântico me agonia 
A travessia do atlântico me agonia 
A travessia do atlântico me agonia 

 

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Nos braços da solidão

Esses dias ensolarados de nada adianta.
Acordei com uma saudade descomunal
dos meus cabelos grandes.

As batalhas que travo entre corpo e mente
me afligem tanto. Quando comunico minha 
situação de fragilidade, o acolhimento custa a chegar.

Perguntas retóricas.
Indico com a cabeça que estou bem.
Me esforço para permanecer atenta, 
ainda que aparente dissonância, estou aqui!

Não irei questionar a presença de ninguém. 

Vou esconder-me um pouco debaixo dos escombros
de minha fé abatida e miúda. 



Sem conclusão


Me sinto uma pessoa de vidro 
que qualquer toque mais forte cai, 
quebra e se espalha em pontas 
agudas que podem cortar.

Destoante e reativa ao prazer e a loucura: 
tudo me vem efêmero até mostra-se contrário. 

As cores verde musgo e lôdo descendo pela parede, 
um vermelho bordô minando na beira da calçada, 
me faz lembrar de suas unhas pintadas.


Em carne viva

Embalada pelas canções de Celeste 
que me trazem uma melancolia implacável,
tomo o ultimo gole de cachaça.

Como uma mulher pode deixar meu coração tão
quebradiço, escorregadio e fatídico igual a um 
naufrágio em pleno atlântico?

A melodia invade…
Pedaços de lágrima, fragmentadas em momentos 
oportunos, pois a rotina não me emociona tanto 
para que meu rosto, semelhante ao de minha mãe,
encharque.

domingo, 12 de junho de 2022

Travessias

Suas mãos macias e quentes. 
Dentro de mim.
Melada! 

O teu olhar confuso com ar equilibrado 
Grita
Grita 
Grita 

Gosto quando sua boca sedenta encostando em mim.
Me mordendo forte enquanto percorre devagar meu corpo: 
Ora buscando caminho, ora sendo destino. 

Uma das sensações que recordo desde princípio é o 
encontro e o descanso das tarefas árduas onde tudo 
era como tatear o imprevisível, 
então chegar no teu quarto semi iluminado, 
sem beijo 
sem amor 
sem coberta
sem sequer sorte de tranquilidade.
Apenas deitar ao teu lado e dormir!

Sua facilidade em tirar a roupa sem pretensão de sexo, 
me aguça memórias de um tempo sem maldade. 
E tudo em nós até aqui é uma nudez calma, 
aos sons e silêncios que se agrupam em nossas realidades tão distintas.

A cor 
Agô
Abrindo caminhos

[…] poros abertos, sabor cítrico e tudo fica mais nítido 
e menos acumulado distante da rotina. 
Te vê concentrada me dá um negoço na retina, 
parece uma escultura frágil e impenetrável, 
e quando sorrir é como se no mundo não existe guerra

“soldados abraçando suas famílias, crianças gritando, 
o burburinho: estão vivos; hinos de vitória tocando ao 
fundo e uma paz invadindo, rasgando o tempo”

Porém 
Existem ruínas na travessia 
Ainda que existamos em graça.


Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...