sábado, 18 de março de 2017

Pena

Agora o consolo me foi forte
como a pedra que minha cabeça descansou noite
passada
pesada!
Arrepio-me pois já resta tanto sentimento
as minhas pálpebras cansadas, a minha boca
amarga e o café que esfriou sobre a mesa do
lado de fora da casa e os pedaços de mim, estão
todos aqui comigo.
Uma árvore que parece os cabelos de gente
sentada no meio da rua, pedindo água, morrendo
de calor...
Eu mesma que não me iludo com os sorrisos
Mesma que passo com dentes a mostrar para
o mundo e a minha felicidade é feita de pequeninas
borboletas que saem de seus casulos aquecidos para
no relento amar alguém que se conhece pouco.
Eu durmo, e como se não soubesse sonhar
acordo!

Eu que viajo, não durmo

imersa
pesada
desnorteada
bandida
bandida
descabelada
nua
completamente
nua

chororô
molhando
esparramando
a casa exarcada
e nada

loucura
sol
mel
quente
amor
dói

uma bigorna nos meus ombros foi acrescentada como se eu...
fosse errado passar o pano na galera no mei da rua e eu não...
lembro bem de não saber o que era isso direito ai eu olhava...
uma mulher, eu sou uma mulher, toda mulher tem que fazer é, é é

tropeço
fujo
falo
calo
tato
caco
por quê?

na verdade queria sambar
mas eu não sei
se devo sambar

sou jovem
bossa
fossa
cossa

e de repente a chuva cai direitin na minha testa.




Sono

Pode ser que vá e corre
agachar debaixo da árvore
e beber a água do rio que
passa em correntezas demais

sentar-se para observar os
peixes que saltam enquanto as
garças estão lá sobrevoando
rapidamente para abocanha-los

gostaria de entrar e ficar mais
um pouco. Andar por toda casa
sentir todo mofo mesmo que meu
nariz não aguente mais de tanto
espirrar

quero deitar ao seu lado outra vez
te ver dormir é dormir melhor
o teu cheiro forte é a chuva quando
vem e bate no mormaço quente e
se espalha por toda cidade

quando tu diz que vem eu arrumo
o quarto, eu limpo o ventilador e
troco os lenções, mas quando vens
de surpresa tu reclama de tudo

então eu paro na tua frente e com
um beijo silencioso te peço calma
e tu não para e fico aflita e tu não fala
a gente briga

Vejo os pássaros que são como nós
agitadas e ágeis, e os peixes de água doce
como nós flexíveis e completas

antes de dormir penso que estou com
você e estou! Durmo mais ligeiro...

segunda-feira, 13 de março de 2017



Submeto esses versos para falar desses tempos

cujo argumento maior se encontra no trajeto torturante

até aqui, ainda fresco e vivo.

As armas perigosas entregues nas mãos daqueles que

destroem com vigor as risadas.

Aquilo que come as cidades, uma praga, uma mentira.

Mal consigo pensar, queria mesmo me atirar da pedra

mais alta de Redenção ao contrário me prenderiam para

roer minha língua e fazer de mim um capacho, um limpador

de bosta de seus cavalhos cheios de brilho, crinas elegantes

e superfaturadas.

Devia mesmo me entregar a sangrenta tabela de seus assassinatos

covardes, passar no jornal na hora do almoço, enquanto bebem

o meu sangue e os restos do meu corpo são jogados aos seus

cachorrinhos novos.

Eu sou é ruim!

Ainda que pelos argumentos o TEMER não exista, ainda

que pelos beijos tenha eu que conter os lábios e daqui já

consigo ouvir o tintilar dos copos desse veneno torpe preste

a ser bebido por tantas de nós em pequenos cubos, eu sumo e assumo que

não pelas minhas mãos os corpos serão submetidos ao erro,

ao engano e ao dinheiro serão comprados para amarrar os seus

próprios pés dentro de uma bacia cheia de caranguejos agoniados.

Em um tempo como este que nos é dada a oratória vil para dizer

que os nossos dias são contados e monitorados por um olho universal

que rege até o cu mais cagado e sujo dessa terra e das terras que nos

roubaram enquanto estávamos na beira do nascimento, um parto

doloroso e raro onde nossa mãe morrera asfixiada pelo pai comprado

pelo estado.





Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...