quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Noturna

Possivelmente eu esteja sendo influenciada por momentos
cujo o nome não sei dizer ainda.
Durmo...
Acordo...
Tenho sonhos exaustivos que me deixam pensativa durante o dia
tentando lembrar o que aconteceu em mais um período que 
dormia.
Vejo a corrente da vida me levar a lugares que não almejei.
Pareço simular algo que já aconteceu em algum...

Agora é calma a noite é clara lá fora.
Um dia a lua me sorriu assustadoramente
assim que sai a porta fechou e eu não sei 
onde estou... Será que morri?

Não consigo lembrar de coisas que deveria lembrar
mas lembro da infância e das escolhas que não fiz
então
Escondo-me nesse escuro para que ninguém possa
ver minha face tremula diante do algoz futuro roubado.

Sabia desdo princípio que estas feridas abertas
voltariam a me atormentar:
Estou apaixonada por varias mulheres.
Este é meu fim.

sábado, 27 de agosto de 2016

Ando sem saber de mim

Beiro nessas calçadas vis
um corpo meu oblíquo,
reprimindo olhar para esta
lua entre fios. Minha face
outrora leve e feliz, se estraçalha
a medida que sinto em mim o rastro
da languida aurora que virá...

Meu amor é vidro quebrado furando
os pés de quem não atenta para baixo
com cuidado
- eu machuco sem piedade.

Há insetos tomando de conta do
resto de mel que adoçava o fluido do
copo, e dentro de mim é um oco sem
fim...

Queria não sentar e chorar nos ombros
sujos dos ônibus desconhecendo assim
o motivo de tal lástima: perigosa e ingênua.
- preciso aprender a gostar mais de mim...
pois lá fora vejo minha sorte sendo levada
pelas mãos de quem não me quer.

Alguém pode me afagar? Este momento retendo
o ar de meus pulmões e me fazendo gelar os lábios,
meu canino sequer tem forças para morder a próxima
vítima desse coração frígido.

Será que ao menos posso enxergar além do que
esses olhos cansados quer?

Sinto-me muita...

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Cachorros

Quando sinto muita fome vomito o que tenho dentro, talvez
uns restos de ontem que ainda não foram devorados pela criação
de lombrigas que supostamente tenho no estômago, e torno a olhar
meu cotidiano medíocre e perdido na maresia que agora me deixa
tonta.
Eu como a minha fome! Mas
Sinto vontades imensas de fugir dela,
Desaparecer como quem não sente nada.
Assim parecem ser os cães que ingerem de novo seus vômitos
Numa ânsia, desmaião e morrem atropelados por um
coração abandonado há exatos meses de uma fome carnal e sem
satisfações.

No seguimento de suas vidas, eles foram muitos felizes...

Os cães abandonados encontram lar em um coração enrijecido, porém mole
que fora perdoado, mas que não perdoa ninguém, a não ser quem
abandonou o cão:
Foi a falta de dinheiro pra manter a ração diária?
Ausência de carinho e tempo de cuidado?
Chagas tomaram conta de seu corpo jovem e por isso não
teve forças suficientes para... (?)

O cão também precisa perdoar quem o abandonou e parar de
comer o vômito da fome, pois encontrou no coração de seu dono,
um lugar quente quando for pra ser quente e frio quando for frio, e
comida e banhos em águas que não maltratam seus pelos.



quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Frígida

O corpo cai sobre o frio da minha imensidão.

Se me ver calada nos cantos, é porque meu 
canto se perdeu nos pensamentos tantos...

Não quero secar e morrer perpetuando a flor 
que não quis ser, sem saber o quanto tenho a florescer
ou se minhas raízes fincarão em solos férteis...

Oh, dentro de mim pedaços de ser inacabado

Oh, nesse lugar vejo o dia nascer raso e passar
pelos olhos sem quase existir.


Afogamento

Meu coração se lançou ao mar de tão teimoso e aflito. 
Queria segurar suas mãos e não afundar vigorosamente
como os velhos bêbados em queda num buraco cheio de baba,
como o sopro de vida que vai, rasgando meus pulmões e 
desesperando-me sofrega... 

Porque o oxigênio durou até eu encostar meu corpo frígido
numa pedra pontiaguda e esvaiu em bolhas escurecendo
minha visão. 

Eis que vejo agora como num sonho, 
os teus cabelos, a tua face pintada, o teu olho. 
É ver de baixo o infinito mar a refletir
o sol e formar dentro pequenos cristais catalizadores.

Emergi e aqui pareço renascer e ser outra como nunca fui,
e a areia que entrou na minha concha é perola pra enfeitar 
o seu pescoço e ser teu patuá... 

E o sonho daquela mulher
azul pintada de amarelo-sol não ia com o passar dos dias. 
Acordava e dormia, e ela lá, sem saber de mim... 
E eu aqui sem saber sonhar...

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

O mar não tem cabelos

Um dia eu caminhava na beira d'água e
e noutro já estava neste mar.
Suas ondas mansas sorriam e tocavam
minhas mãos, por vezes beijava e outras
lambia...
O vento balançava meus cabelos
como o balançar de mãe na rede.

Então,
a areia molhada em cima e embaixo dos pés
excitava-me voluptuosamente e eis que rendo 
meu corpo diante do mar:que
suga-me as forças, ofusca minha visão, 
sufoca o meu grito...
Será que estou me afogando mesmo sabendo nadar?
Já sem muito saber o mesmo mar me leva em ondas até
eu consegui agarrar nas pedras no entorno das águas para tentar
salvar os rebentos de minha fé.




Onírico,

Jorrava verde e vermelho que escorria pela boca, mostrava os dentes afiados e os olhos virados, brancos.
O vento fazia ecoar seu grunhido, uma espécie de canto talvez, no areal. Penoso!
Parecia chorar e as lágrimas não caiam, o choramingar não cessava com a alegria dos que celebravam ao redor.
Ela tapou os ouvidos para não se ouvir e calou-se por dentro. Observava como se não compunha a cena: era confusa a peleja daquele ser, ora humana e deusa, ora o diabo, a peste, o bicho de pé.
Dançava e seus cabelos eram seu vestido, parece despir-se entorpecida
- Vejam!
E uma cólera surgia dentro de mim como se eu fosse dona daquilo que despertava em vício e fissuras carnais a vista daquela gente toda -era assustadora e deliciosa!
Mas, a raiva roía em ruínas derretidas até sujar minhas mãos de sangue, areia e água. Quase cheguei a esfregar na sua pele alva o meu corpo que caia e deixava um rastro de morte por onde ia.
Então me aprumei em vão no canto do templo. Ela aproximou-se, percebi o gesticular das mandíbulas como se fosse me engoli... Foi quando em seguida saltou pra rente minha face e virou um dos olhos que continha um cisco, um ponto cego e gritou um grito ensurdecedor visceral, dividido em 4 vozes de tessituras e timbres diferentes
- um cânone saindo das entranhas e atingindo-me aorta.
Nesse momento vi que meu corpo estava emergindo no mais profundo, escuro e imenso mar. Não temi...
- Acordei!

Quando durmo

Aprendendo a gostar do efêmero  tanto quanto não me saciar no tempo  das coisas findas rapidamente.  E então me deparo, as vezes tarde demai...